quarta-feira, 22 de junho de 2011

Telo Pinto: O desafio de fazer bem Feito

O administrador, presidente e diretor de arena do boi-bumbá Garantido Telo Pinto trabalha desde 1995 na direção do bumbá e passou a fazer parte da Comissão de Artes do Garantido em 1999. A sua gestão ficará marcada pela ousadia. Telo surpreendeu ao levar para a arena uma cantora de renome nacional – Daniela Mercury, em 2010 –, e gravar um CD e DVD ao vivo, vendido nacionalmente nas livrarias Saraiva. Este ano investe na atuação de dançarinos de outros municípios do Amazonas e de Juruti, no Pará, que prometem surpreender o bloco coreográfico e cênico na arena.

O presidente abriu as portas da Casa dos Itens, local onde eles se concentram dias antes das apresentações, para a reportagem de A Crítica e concedeu uma entrevista. Ele falou acerca de temas como as mudanças no regulamento do festival, sua forma de administrar e o desafio de associar a arte e a economia na produção do boi de arena.    


Qual a principal marca da sua gestão a frente da presidência do boi?

Desde 1999 começamos a pensar em algumas mudanças no boi. Pensar em uma administração que a diretoria administrativa pensasse junto com o olhar artístico. Nosso grande sonho e desafio.  Sempre os administradores do boi pensavam na área financeira e deixavam de lado a artística. Em 2010 chegou a nossa vez, da parte artística administrar o boi. Mas, quando pegamos o boi ele estava cheio de dívidas. Eu como administrador tive um grande desafio. Eu tinha a parte artística do boi na minha cabeça. Sabia como funcionava, mas tinha que casar as duas coisas. As dificuldades você encontra, mas hoje conseguimos fazer.

E como está a situação do boi hoje?     

Já pagamos R$1minhão em dívidas. Não posso precisar o quanto ainda temos de dívidas. Só de Justiça do Trabalho devíamos mais de 700 mil. E estamos fazendo esse resgate.Esse ano tomamos por decisão inovar no boi. Fazer um boi que fosse artisticamente bem sucedido e econômico.

E como conseguiram fazer isso?

Queimamos muitos neurônios. Aproveitamos muito material. Mas, você não vai ver nada no bumbódromo repetido. Mas, muito material que usamos reutilizamos. Só para se ter uma idéia ano passado compramos R$ 650 mil em ferragens. Esse ano 320. É uma economia considerável. Reduzimos bastante o custo do boi para fazer esse investimento nas pessoas que fazem o boi. Só não abri mão do pagamento de artistas e trabalhadores. Mas, trabalhamos para economizar na construção do espetáculo para pagar dívidas.

Falando em artistas, vocês estão abrindo espaço para novos nomes?

A gente pensa nisso. Temos pessoas que começaram como pastelador e hoje é um grande artista e está credenciado a conduzir um trabalho. Hoje, praticamente, cada alegoria é feita por um artista diferente. Temos 11 artistas e 12 alegorias. Queremos dar oportunidade para novos talentos. Gestões antigas já fizeram alguns grandes nomes serem perdidos por conta do não pagamento. Pensamos diferente. Queremos valorizar nossos artistas.
As mudanças no regulamento colaboraram o desenvolvimento do festival?

O regulamento que foi reformulado poderia ter avançado muito mais do ponto de vista da dinâmica dos espetáculos de arena. Infelizmente algumas coisas não puderam ser colocadas, outras deturpadas. Mudamos pouquíssimas coisas. Na nossa cabeça, do Garantido, o Festival conseguiu atingir seu ápice é preciso as pessoas precisam  queimar os neurônios e pensar em novos espetáculos. A gente vem apostando nisso, no novo. Este ano resolvemos apostar mais na concepção artística do boi. É uma nova proposta, além das mudanças nas coreografias e indumentárias, temos a inserção dos tuxauas nesse processo como o verdadeiro dono da tribo. Ele tem que estar inserido nesse processo. 
 
Falando do Festival deste ano, o que podemos esperar das apresentações do boi Garantido?

Em 2011 vamos falar do povo de alma vermelha, do povo brasileiro, com o tema miscigenação. Todo o amazônida é miscigenado por natureza. Falando de miscigenação vamos agregar brincantes de outros municípios. Este ano vamos ter brincantes de Manaus, Parintins, Juruti, Barreirinha e Nhamundá, que formam esse baixo Amazonas. Eles se entregam de corpo e alma. A miscigenação passa por isso. Formatamos o espetáculo justamente nisso.

Foi difícil substituir o levantador David Assayag?           

O boi nunca ficou devendo o David em nada. A saída do David foi um impacto. Ele foi meu adversário político na eleição da presidência do boi. Mas, mesmo ele fazendo parte como vice-presidente em outra chapa eu já mais tiraria o David do boi. Mas, na época tínhamos um substituto. Convidamos o Robson, a Márcia Siqueira foi uma pessoa que surgiu com muita força, para ser levantadora do Garantido, ela é fabulosa, pela concepção artística do boi ela não assumiu. Mas, continua com a gente. Trabalhamos o Robson, mas por problemas de saúde não pode permanecer. O Sebastião sempre vinha pra Parintins. Já sabia todo o roteiro do boi e se preparou em um mês e graças a Deus  ele conquistou a todos.   

O Garantido aceitaria o David Assayag novamente?

Acho difícil isso acontecer. Não posso falar em nome das futuras gestões. Tem um possível candidato que está prometendo isso. Mas, acredito que o povo não aceitaria e não seria como era anteriormente. Ele saiu dizendo que não era Garantido e estava voltando para a casa dele. E isso para o torcedor do Garantido é massificante. O torcedor é apaixonado e não iria permitir isso. Recentemente teve até uma pessoa que quis voltar para a batucada, fui consultar a batucada e disseram que não. As pessoas reconhecem a potência de voz do David, mas o Sebastião já é parte do Garantido.    Leandro Tapajós
Do portal A Crítica


Entrevista do Presidente Telo Pinto com o Jornal ACRÍTICA

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