Nestes dez anos qual marca o senhor pensa ter introduzido no espetáculo do Garantido? Israel – O formato, foi uma mudança gradativa, o apresentador passou a ser um ator e não um contador de história, que era o estilo do Paulinho. Ele, por sinal, deu uma contribuição incontestável para o nosso boi, mas hoje o apresentador não é só o narrador que lia um papel. Alias usei este modelo por uns três anos, depois fomos mudando.
AC – O senhor domina tudo o que vai acontecer, como vai acontecer e onde vai acontecer, ou vai recebendo dicas por um ponto eletrônico? Israel – Não uso ponto eletrônico, nem testamos isso porque o festival tem uma formatação única, tem improvisos. O que faço é um estudo profundo dos textos, dramatizações. Tenho um diálogo forte, converso muito com os artistas de alegorias, de tribos. Eu não faço parte da comissão de artes, mas os membros me consultam muito, me perguntam se isso ou aquilo pode funcionar. Nesse trabalho, o objetivo é descobrir qual sentimento eles têm pela obra que estão fazendo, eu absorvo isso e coloco em pratica na arena.
AC – Memoriza tudo?Israel – Sim, tenho todo o roteiro das três noites na cabeça, me aprofundo no espetáculo, interpreto o texto como recebo.
AC – Para mudar o perfil implantado por Paulinho foi preciso fazer um curso de artes dramáticas?Israel – Não fiz curso, tive orientações e desafios, recebi uns toques do Chico (Cardoso, teatrólogo e integrante da Comissão de Artes). O Chico que lançou o desafio de interpretar, ele me disse que eu podia fazer diferente, podia ser um ator, ai me deu uns toques de teatro, de cênica, expressão.
AC – Quando isso começou?Israel – Em 2006 entramos com esse modelo novo.
AC – Nestes nove anos qual foi o momento mais difícil?Israel – O Garantido sempre tem problemas internos, de organização, administração que sempre me deixa preocupado, com aquela dúvida: será que o boi vai entrar na arena? Mas nada se compara a 2009, o ano da maior cheia. A Cidade Garantido ficou alagada, foi um ano atípico e ainda com muitos problemas financeiros. Mas nós conseguimos fazer o boi na rua, as alegorias foram finalizadas na praça dos bois. Foi aí que a galera levou o Garantido nas costas, não teve medo ou vergonha de dizer que era o boi dos alagados, foi superação do começo ao fim. Lembro que entrei cantando Alma Rubra e a galera...
AC – Paulinho Faria ficou 26 anos defendendo este item, você vai compeltar 10. Você vislumbra quanto tempo poderá permanecer no boi?Israel – Não vislumbro essa questão de quantos anos vou ficar. Penso sempre em por quanto tempo eu vou poder contribuir com meu boi, seja como apresentador ou em outro posto, na produção ou na galera. Costumo dizer que sou um torcedor dentro da arena e enquanto puder contribuir, vou contribuir.
AC – E cantar, como é essa parte de sua carreira?Israel – Adoro cantar, sou também compositor, em 2007 emplaquei a toada “Cabucada da baixa”, que me deu muito prazer.
AC – Pensa em ser levantador?Israel – Penso, no futuro. É um sonho que não ultrapassa os limites, pois sei que o Sebastião (Júnior) é a pessoa da vez, está muito bem, tem talento e vai nos ajudar a ser campeão. É coisa de sonho, coisa de futuro, nada para agora.
Israel Paulain é a “ovelha vermelha” numa família de tradicionais artistas do bumbá Azul e Branco. O pai, Carlos Paulain, é compositor da toada “Ninguém gosta mais deste boi do que eu”; e o irmão, Júnior, é apresentador do bumbá azul. Do alto de quem conhece a situação de viver numa casa de contrários, ele demonstra preocupação com a futura escolha dos filhos, Isabela e Israel. “Eles são tudo vermelhos”, garante, mas teme a má influência dos avós. “Eles vão prá lá de vez em quando e ai ninguém controla”, conta, divertindo-se com a situação.
A esposa, Marjorie, diz que vive falando pra Isabela que o contrário é o boi feio, ela repete, mas quando volta da casa dos avós vem diferente. “Outro dia ouvi ela dizendo Caprichoso boi bonito”, relata, também divertindo-se com o caso.
O apresentador do Garantido, Israel Paulain, tem vida agitada em Parintins. Bacharel em Direito, vereador a Câmara Municipal, radialista e Diretor Financeiro do boi, ele ainda alimenta um site (israelpaulain.com.br) com as informações da carreira artística e política.
O programa dele, na rádio Alvorada FM, acontece aos sábados entre 10h e 12h. Ele faz entrevistas, interage ao vivo com ouvintes e conta com entradas ao vivo do irmão, Júnior Paulain, com informações de Manaus. “É uma correria, mas tem muita gente ajudando”, diz. Além do programa de sábado, que é dele, Israel apresenta também o programa do Garantido na rádio Alvorada e na rádio Clube, que é de segunda a sexta-feira.
Fã de Israel, a estudante Aldlaine Bruce ligou para ele no último sábado com um pedido insólito. “Quero uma camisa sua, mas com o teu cheiro”, disse, insinuante. “Já ganhou”, respondeu o apresentador e meia hora depois entregou o “prêmio” para ela. “Passei cinco minutos no telefone para fazer este pedido”, revelou. Outro pedido insólito veio de Cida Vanusa, que é torcedora do Caprichoso, mas adora Israel. “Pedi uma camisa dele, mas é pra dar pro meu amigo Nildo”, conta.
FONTE: Jornal ACRÍTICA
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