quarta-feira, 22 de junho de 2011

As tribos do baixo e médio Amazonas

O tema do boi-bumbá Garantido é Miscigenação, mas a palavra de ordem – pelo menos no que tange os trabalhos no bloco cênico e coreográfico –, é interação. Entre os brincantes que devem se apresentar na arena do Bumbódromo estão dançarinos nascidos nos municípios amazonenses de Maués, Barreirinha, Nhamundá e Manaus, além dos parintinenses e até mesmo paraenses. A presença de cerca de 150 jovens de Juruti, no Pará, é maior surpresa e um dos trunfos do boi da baixa do São José, que após 2011 pode passar a ser chamado de ‘boi do baixo e médio Amazonas’. 

De acordo com o presidente e diretor de arena Telo Pinto, há espaço para brincantes de outras cidades. Ele diz que a abertura para eles é oportuna e está inserida no contexto a ser encenado. “Todo o amazônida é miscigenado por natureza. Falando de miscigenação vamos agregar brincantes de outros municípios. Eles se entregam de corpo e alma, já conhecem o boi e são apaixonados como os parintinenses. A miscigenação passa por isso. Formatamos o espetáculo justamente nisso”, explica.

Trocas entre festivais
Os dançarinos de Maués fazem parte de um corpo de dança que se apresenta no Festival de Verão da cidade. Já os paraenses de Juruti dançam no Festival das Tribos, ou Festribal. A presença de parintinenses é comum em ambos eventos.

 Além de influenciar na formatação dos espetáculos, Parintins também exporta artistas para trabalhar, principalmente os que produzem as fantasias e alegorias. O Garantido busca o caminho inverso.
De acordo com o coordenador da Porantin Companhia de Dança de Maués, Djalma Cardoso, a relação entre os dançarinos de Maués e o boi de Parintins é antiga. “Desde 2006 participamos do Garantido. Esse ano viemos para Parintins quase um mês antes do Festival. Um coreógrafo foi até a cidade e há cerca de 3 meses começamos os ensaios lá em Maués. Dançamos sob a coordenação do parintinense Márcio Adriano”, disse.

Cardoso complementa dizendo que aprova essa troca de experiências. “A gente sabe da grandiosidade desse festival. Vindo pra cá a gente adquiri conhecimento. É uma oportunidade de interação muito importante.  Tem um grupo de Maués que participa do contrário também e temos uma rivalidade.  A gente não pode deixar de vir. A gente vem e leva muito conhecimento. Artistas de Parintins participam do nosso festival. A gente tem essa união muito grande”, revela Cardoso.

Os dançarinos parintinenses também aprovam a interação entre as cidades. “Isso é muito bom. A gente tem uma junção de culturas e experiências”, disse Paquetá.

As novidades para a arena
Mais qualidade técnica, maior unidade, acrobacias e passos inspirados no gestual de índios do Xingu é o que pode ser visto durante os ensaios técnicos. Mas, as novidades não param ai. A direção do boi faz suspense, porém fontes ligadas ao bumbá dizem que as indumentárias dos dançarinos das tribos coreografadas também foram repaginadas e devem surpreender. “Tivemos muita mudança. Tanto em termo estético, quanto coreográfico. Percebemos que o boi foi ganhou um novo formato ele vem diferente para a arena. Para nós que temos a naturalidade para esse tipo de coisa foi um enriquecimento trazer o coreógrafo Vavá. Ele veio somar, trouxe um pouco de técnica, expressão. Coisas que já tínhamos, mas que não explorávamos bem”, revela o dançarino parintinense Adriano Simas, 24.

Romance entre festivais
A troca de experiências entre os dançarinos do baixo e médio Amazonas rendeu, além do enriquecimento artístico para os festejos, o nascimento de novas amizades e até mesmo romances. Graças a interação entre o Garantido e os dançarinos de Maués, o parintinense  Adriano Simas, mais conhecido como Paquetá, e a mauaense Ana Grace, 19, passaram a namorar. Ele é um dos principais dançarinos do Garantido, ela é bailarina do grupo Porantin. Ambos ensaiam juntos e namoram, mesmo a distancia. Em um amor que mantido  entre os festivais amazônicos.

Eles se conheceram há um ano durante o festival de Parintins, mas só começaram a namorar em novembro, no Festival de Maués. “Na verdade eu venho trabalhar no boi e ele vai para Maués trabalhar no festival de lá. Somos artistas, temos que viajar, fazer apresentações. Tem que ter uma compreensão enorme”, disse. 

Assessoria de peso
O que uma Companhia de Dança renomada, que figurou várias vezes em reportagens nas páginas do jornal The New York Times e faz uma média de oito meses de turnês internacionais por ano tem haver com as tribos coreografadas do boi-bumbá Garantido? Ambas contam com o trabalho do antropólogo e diretor da Companhia de Dança Folclórica da Bahia, Vavá Botelho,50. 

O antropólogo encontrou a fórmula para transformar um grupo de dança local em uma referência da dança contemporânea mundial. Ele está trabalhando em conjunto com os coreógrafos do bumbá desde abril deste ano. “Esse ano a proposta é profissionalizar o boi. Em abril conheci toda a estrutura e me empolguei, me apaixonei pela forma espontânea e emocionante que fazem o boi. Quando fui jurado não pude perceber isso. Já fiz shows para milhares de pessoas, na Copa do Mundo da África, réveillon de Copacabana, mas nada me emociona mais que o boi de Parintins. Essa festa é única. Estou apenas dando uma contribuição pequena, prestando uma assessoria artística pensando nos detalhes”, disse.

Vavá conheceu os bois em 1995, pela TV quando fazia uma turnê no exterior. Em 2007 foi jurado do Festival de Parintins. Apontou algumas falhas em um relatório para ambos os bois e propôs uma reunião para pontuar suas impressões. Reunião essa que nunca aconteceu. No réveillon, durante o show da cantora Daniela Mercury no Rio de Janeiro, do qual foi diretor, reencontrou o Garantido e foi convidado a fazer um trabalho junto ao bumbá.

Segundo ele a proposta não é fazer modificações técnicas no trabalho já realizado. Mas, atentar para detalhes e pensar a apresentação como um espetáculo profissional.       
 Vavá faz mistério sobre os detalhes, mas, adianta: “vamos ser campeões, tenho certeza disso”.

Leandro Tapajós 
Do portal A Crítica

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