sábado, 16 de julho de 2011

Auto do boi revive tradição na Baixa

A diretoria do Boi da Baixa de São José, a família Monteverde e torcedores da velha guarda do Garantido prometem fazer a matança do boi de acordo com a tradição do bumbá. A festa tradicional acontece no próximo domingo, 17, no curral da Baixa, a partir das 19 horas.

Os ensaios para o verdadeiro auto do boi iniciaram terça-feira as 16 horas e prosseguiram ontem com a participação de Maria do Carmo e João Batista filhos de Lindolfo Monteverde, do compositor Braulino Lima, Didi Piedade e de outros torcedores do bumbá vermelho e branco.

Um dos pontos principais cita Maria do Carmo Monteverde, filha do criador do Garantido é a encenação de todos os atos referentes a morte e ressurreição do boi campeão. “Fizemos um trabalho de aproximação com muitos torcedores antigos do Garantido, e com isso conseguimos recuperar por suas memórias toadas e versos que fazem referência a esse momento tradicional. E claro não vão faltar a figura do amo do boi, da Catirina, Pai Francisco, vaquieros e outros personagens”, disse.

O Garantido antes de ser morto fugirá pelas ruas do São Benedito e São José até ser capturado e morto no seu curral. Para seu Didi Duarte do 86 anos, a brincadeira do auto do boi traz recordações maravilhosas. “Quando estou aqui no nosso curral recordo de muitas coisas boas. Me lembro inclusive das brincadeiras que eu tirava com o mestre Lindolfo. O auto do boi é mais uma tradição que o Garantido cumpre e não deve abrir mão disso”, enfatizou o torcedor histórico.
começa o verdadeiro auto do boi-bumbá:

Catarina, que estava grávida, tem desejos. Deseja comer, de acordo com a folgaça, a língua, o coração, o fígado, um órgão vital do boi mais bonito da fazenda de seu patrão, (o Amo do Boi).
Com medo de que seu filho nasça com a boca torta, Pai Francisco realiza esse desejo de Catirina e rouba o boi mais bonito, mata-o e se esconde. Pai Francisco é acusado, procurado, perseguido e preso pelos vaqueiros. E termina por confessar seu crime.
No ritual, o Amo chama o Dr. veterinário, Dr. curador, Dr. da Cachaça (hoje, o
Pajé indígena, feiticeiro) para trazer o boi de volta. E se consegue reviver o boi.
O crime de Pai Francisco não deixou de existir: o boi está vivo. Seu urro é ouvido com alegria e todos os participantes cantam, pulam, se confraternizam, porque mais uma vez o boi venceu a morte.  E assim, anos a fio, a brincadeira de Boi-Bumbá vem sendo a razão de ser de muitos parintinenses.
O ritual do Boi-Bumbá retrata a forte miscigenação: o negro cativo, típico no nodeste e que teve maior influência nesta brincadeira, revive suas festas, os rituais de sua terra distante. O índio, também cativo, buscou no boi uma fuga para sua situação, e nessa brincadeira incorporara suas características. O branco, pela situação de dominante, entrou na brincadeira de gaiato e era satirizado pelos escravos.

Figuras centrais do Boi 

Tradicionalmente, o Boi era formado por: Um Amo, 2 Vaqueiros, 4 Índios, Caboclos, Pai Francisco, Mãe Catirina, Cazumbá, Lamparineiros, Padre, Sacristão, Pajé, Feiticeiro, Dr. da Cachaça, Dr. do Trovão, Dr. Curabem, Dr. Veterinário, 2 Rapazes, Tripa do Boi, Batuqueiros, D. Maria, a senhora da fazenda, e o Negro Velho.
Hoje, os vaqueiros formam um grupo de 40 brincantes e os índios se tornaram tribos inteiras.
A figura do Padre, Sacristão, Dr. da Cachaça desapareceram do Boi de Parintins, mas permanecem nos Bois de Manaus. No Boi de Parintins, hoje ocupam destaque principal:
Pajé e Cunhã Poranga - representantes da cultura indígena,  Amo do Boi, Rainha do Folclore e Sinhazinha da Fazenda, representando o homem europeu Pai Francisco e Mãe Catirina, representando o negro.
Ontem e hoje os bois apresentam e conservam quatro elementos distintos no
decorrer da folgaça folclórica: o falado, o cantado, o orquestrado e o representado.

Boi-bumbá: origens
A palavra Boi é usada tanto para o animal como para o grupo folclórico inteiro. Assim, Boi Caprichoso é tanto o boi de pano, que brinca na arena, quanto o conjunto folclórico inteiro: o boi de pano mais os vaqueiros, os músicos, as figuras, tribos e alegorias.Originalmente, os bois eram confeccionados, com caixas de sabão e até de papelão e cobertos com pano branco, preto, marrom ou estampado. Durante o
mês de junho, o Boi saía com seu Amo, o cantador de versos. No dia de São Marçal, o boi era jogado dentro da fogueira como homenagem a este Santo e encerrava-se, assim, a quadra junina.
O Boi de terreiro e o Boi doméstico eram bois simples. O Amo cantava os desafios ao som de um maracá de lata, por ele mesmo ritmado. Os desafios eram versos que o Amo tirava ridicularizando o Boi contrário.
Hoje, o Boi é feito de uma estrutura de madeira coberta com espuma e um pano de cetim.
Dentro dele, o tripa se movimenta, tentando simular os movimentos de um touro no campo.
O Boi de pano é uma das figuras mais esperadas e aclamadas durante a apresentação. A entrada do Boi de pano, na arena, tem sobre o torcedor o mesmo efeito de um gol, durante uma partida de futebol. A primeira entrada do Boi de pano na arena é sempre elaborada com elementos de surpresa ou de grande beleza. Momentos como esse, de euforia e emoção coletiva são dos fenômenos mais notáveis do Festival de Parintins. A própria beleza plástica, visual do espetáculo é um ingrediente cujo objetivo é levar a esta comoção coletiva. Assistir a uma apresentação na arena é experimentar descargas de adrenalina. A festa atual tem elementos muito fortes da catarse buscada nos primeiros tempos do teatro grego, quando tentava-se libertar as emoções do público através do espetáculo. É preciso estar em Parintins para crer !

As roupas
O guarda roupa era pobre e inexpressivo. Para se dar início à brincadeira, sempre houveram reuniões. Escolhia-se o padrinho, local de ensaio, Amo e outros detalhes. Havia a farra do Boi pelo padrinho. As apresentações concentravam-se no terreiro dos ensaios até a morte do Boi. Depois, essas apresentações passaram a ser mais domésticas, isto é, o Boi dançava nas casas e no momento  do Auto do Boi, quando o Pai Francisco, tirava a língua para satisfazer o desejo de Catirina, esta língua era vendida ao dono da casa e com o dinheiro arrecadado nas portas dos mais abastados se fazia a festa da matança do boi.As roupas hoje são principalmente de dois tipos: simples, lembrando o homem da Amazônia, pescadores e caboclos, ou fantasias representando tribos indígenas. Rainha do Folclore e Sinhazinha da Fazenda usam roupas mais elaboradas. Osvestidos são confeccionados com produtos renováveis da natureza, dentre outros.

Texto: Márcio Costa


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