AMARILDO TEIXEIRA: CRIAÇÃO DO RITUAL INDÍGENA

A iniciativa de Amarildo e do também artista Ito Teixeira a partir desse pontá-pé de inovação e criatividade deu ao Festival Folclórico de Parintins um aspecto mais indígena que encanta a todos 

 Uma das marcas dos artistas do Boi Bumbá Garantido sempre foi a ousadia e a criatividade. O artista plástico Amarildo Teixeira juntamente com o também artista do bumbá Ito Teixeira, a partir do ano 1990 introduz nas apresentações do Garantido a dinâmica de ritual indígena. “As apresentações do Garantido tinham um lado muito caboclo e faltava o lado indígena. A partir daí inovamos utilizando a cultura dos povos indígenas da Região Amazônica, criando uma estrutura de dança indígena de adoração aos deuses, os ancestrais das tribos”, disse Amarildo. Ele salienta que foi um momento novo, “pois começamos a perceber que os módulos alegóricos estavam precisando de algo como o momento de uma celebração”.

Amarildo Teixeira diz que a partir dessa nova concepção de se registrar a presença do índio na brincadeira do boi-bumbá, houve a introdução da celebração dos rituais voltados para a cura, iniciação e passagem dos indígenas. “Entre os primeiros rituais apresentado estavam a Dança da Tucandeira, Dança do Fogo e o Kuarupi”, destaca o artista. Ele diz que toda essa evolução só foi possível devido a muita cobrança por parte da diretoria. “Naquele tempo os diretores exigiam muita criatividade, mas também davam muita oportunidade de você evoluir e expor uma nova idéia e isso possibilitou o crescimento artístico do Festival Folclórico”, saliente.

Com a evolução dos rituais no Garantido o corpo de artistas e a diretoria do bumbá tinham que realizar várias reuniões secretas para não vazar as informações do que o boi iria levar para a arena. ”Tudo era muito sigiloso, com muito segredo. Foi aí que houve o “boom” do Festival de Parintins como um produto da indústria cultural, como um grande espetáculo apresentando na arena do Bumbódromo”, relata Amarildo.

Marca

O artista destaca que os rituais que mais marcaram em sua carreira foram Paraponera, Araras Vermelhas, entre outros. “Havia muito essa tendência tribal xamanistico, mas hoje ainda continua evoluindo. Naquele momento tudo era novo. Nos últimos três anos tenho feito também lendas amazônicas”, diz. Amarildo Teixeira afirma que não foi nada fácil ter a responsabilidade de assumir o compromisso para fixar a figura do índio na apresentação dos bois de Parintins. “Naquela época o boi tinha dificuldade de mão de obra e aí eu foi assumir esse novo desafio. Então eu e o artista Ito Teixeira começamos a inventar a estrutura de ritual e hoje o reflexo de nosso trabalho se tornou em essa grandiosidade de espetáculo”. Ressalta.

A trajetória artística de Amarildo Teixeira iniciou no ano de 1982 trabalhando na confeccionando tribos do Boi Garantido até o ano de 1987. “Em 1988 fiz o meu primeiro tuxaua de originalidade. Na época o boi não tinha muitos artistas que produzissem os capacetes. Então tive que abandonar os trabalhos de tribos para me dedicar aos tuxauas. Em 1989 passei a integra, juntamente com o artista Ito Teixeira, uma comissão que tinha a função de diretoria artística do Boi. Era uma espécie de assessoria do presidente na questão artística”, afirma Teixeira.

Garantido Show

Uma das contribuições que o artista Amarildo Teixeira trouxe para o Festival Folclórico de Parintins foi a idéia de se criar um corpo de dança para acompanhar o levantador de toadas e o apresentador do boi nas apresentações fora da arena do Bumbódromo. “Em 1996 quando o Garantido foi realizar uma apresentação em New York no Estados Unidos percebi que somente o boi e o levantador de toadas não preenchiam todos os espaços do palco. Então dei como sugestão que se introduzisse  nas apresentações dançarinos com coreografias próprias para dar a impressão visual de muita gente no palco, dando assim um ponto de atraca a mais”, destaca. A partir daí o Boi Garantido mantém o grupo folclórico de dança Garantido Show, depois copiado pelo boi contrário.

Texto e foto: Marcondes Maciel