A robótica foi incorporada no Festival de Parintins da maneira mais natural possível, de forma que se configurasse em movimentos o mais próximo do real. “A gente não parou por aí. Sempre fomos em busca de novas formas de fazer movimentos em alegorias e fazer a coisa acontecer”, JR.
O espetáculo apresentado na arena do Bumbódromo pelo Boi Bumbá Garantido fascina e encanta pela criatividade artística que cada módulo alegórico traz a cada noite de disputa. São gigantescas alegorias que traduzem a riqueza plástica que brota das mãos de artistas parintinenses. Gente simples que se transformam operários da arte e ousam em converter suas inspirações em um grande esplendor folclórico.
Entre tantos guerreiros da criatividade está o artista plástico Junior de Sousa, 41 anos. Ele diz que em 1992 com seu entusiasmo criador foi o primeiro artista a mudar o formato alegórico no Boi Garantido, que antes apresentava peças fixa. “Nós introduzimos a robótica da maneira mais natural possível, de forma que se configurasse em movimentos o mais próximo do real”, afirmou Júnior.
Robótica
O artista ao longo dos seus 18 anos exercendo o cargo de artista no Garantido, afirma que buscou inspiração para a concepção da robótica trabalhando na oficina mecânica de sua família. “Meu pai era mecânico de automóveis e eu aprendi muita coisa de movimentos mecânicos. Isso associado à arte a gente conseguiu dar mais naturalidade ao movimento”, ressaltou. Júnior de Souza diz entusiasmado ser o primeiro parntinense a criar alegoria com movimentos. O artista lembra a obra que deu origem ao espetáculo levado pelo Garantido. Ele cita o surgimento de um “curupira” gigante na arena do bumbódromo no Festival Folclórico de 1992, o que deu o status de artista revolucionário à Junior de Souza.
O lendário “curupira” foi constituído de movimentos impressionantes. “Ele surgiu no centro do Bumbódromo, caminhou na arena, bateu palma, sorriu e conduziu a cunha-poranga até os jurados. Naquele ano foi um trabalho revolucionário. A prova é que o carnavalesco Joãozinho Trinta pediu autorização para reproduzir a alegoria no carnaval do Rio”, diz cheio de orgulho o artista.
Depois veio outra obra como o Nhagoron, um ser monstruoso de 12 metros de altura que rastejou na arena, piscou, rosnou os dentes e se movimentou perfeitamente. Em seguida foi à vez do ritual Paramaku, onde o Maricá, um macaco gigante de 12 metros de altura, apresentava toda uma cênica e expressões faciais. “O macaco atacava a aldeia e ao mesmo tempo os índios surgiam numa cobra grande e lançavam flechas no Maricá e ele começava a sangrar e de repente começa a desabar o meio do Bumbódromo. Agora imaginem um macaco de 12 metros caindo em cima de um módulo de alegoria”, fala o artista.
Espelho do real
Junior explica que a cena era tão real, numa verdadeira impressão de ótica, que a idéia que se tinha é que o macaco caia de verdade, mas na realidade ele apenas se inclinava e deitava. “Foi um grande desafio, pois foi uma cena impactante na arena. Além de outros grandes rituais que fazeram o pajé flutuar a 45 metro de altura do solo, surgindo por cima da arquibancada”, disse. Ele diz que tudo isso foi fazendo o diferencial no Festival. “A gente não parou por aí. Sempre fomos em busca de novas formas de fazer movimentos em alegorias e fazer a coisa acontecer”, salienta.
Júnior inovou também na forma de fazer rituais. Ele teve a iniciativa de transformar em uma fusão do movimento do alegórico com a cenografia, do cênico com a parte de palco, da distribuição dos figurantes na alegoria, na parte de iluminação e efeitos especiais. “Um trabalho complexo. As pessoas que assistem se surpreendem com tudo. Mas tudo requer muito trabalho, porque o artista do Boi tem que conhecer de tudo um pouco, da iluminação, da cenografia, do movimento, da estrutura, da estética, da plástica, então é um trabalho complexo”, afirma.
O início
JR fui convidado a fazer pela primeira vez um capacete de tuxaua no Garantido em 1988. Porém teve trabalho anterior como auxiliar do artista de itens Gilson Azêdo. “No começo eu dividia um QG com o Amarildo Teixeira, na rua Carvalho Leal. “A partir daí eu fui assumindo um trabalho artístico maior no boi”, ressaltou. Em 1994 Júnior de Souza foi convidado a afazer parte equipe de artistas de ponta do Garantido. “Foi muita alegria, porque isso é uma oportunidade que aqueles que trabalham no boi querem, de poder mostrar seu trabalho individual e eu assumi isso com muita determinação e graças a Deus de lá pra cá eu sempre cumpri toadas etapas da arte de elegerias”.
Para o artista o Boi Garantido, assim como o Festival de Parintins, mudou a vida de muita gente e a dele também. “É o tipo de trabalho que se você levar a sério te dá novas oportunidades e abre novos horizontes e com certeza você consegue viver da arte, como muitas pessoas vivem hoje em Parintins”, enfatizou. Desde 1999 quando foi instituída a Comissão de Artes ele participa da concepção das estruturas de alegorias. Em 2011 o artista está trabalhando com sua equipe no projeto do ritual kanamari.